um pouco do que me interessa

sábado, 25 de dezembro de 2010

Um dia você encontra Jessie




Um dia você vai dançar Nina Simone
dizer tudo no caminho do carro
será que ele dirá que sonhou com vc grávida?
ele vai te olhar
com aquele olhar que você gosta
e não te envergonha
você dançara doce?
vocês irão caminhar pelo Siena
você cantara para ele
ele sorrira com um dos dedos na boca

você dira:Você vai perder o seu vôo ,babe!
E ele dirá:Eu sei

alguém um dia vai desistir de tudo
por você
garota de vermelho



before sunrise
e toco uma valsa para você



Acho que escrever aquele livro
foi como construir algo...
que me impedisse de esquecer
o tempo de passamos juntos.
Algo que me lembrasse
que realmente estivemos juntos.
Que foi verdade,
que aconteceu mesmo.
Fico feliz que você diga isso,
porque...
sempre sinto que sou anormal
por não conseguir seguir em frente.
As pessoas têm um caso,
ou até relacionamentos...
terminam e esquecem tudo.
Muda como trocam de marca
de cereal.
Sinto que não esqueço as pessoas
com as quais estive...
porque cada uma tem
qualidades específicas.
Não dá para substituir ninguém.
O que foi perdido está perdido.
Cada relacionamento que termina
me magoa. Nunca me recupero.
Por isso, tenho cuidado quando
me envolvo com alguém, porque...
dói demais.
Eu evito até transar...
porque vou sentir saudades
de coisas mundanas daquela pessoa.
Tenho obsessão
com pequenas coisas.
Talvez eu seja louca,
mas, quando eu era menina...
minha mãe me disse que eu
sempre chegava atrasada à escola.
Um dia, ela me seguiu
para saber o motivo.
Eu ficava vendo as castanhas caírem
das árvores e rolarem na calçada...
ou as formigas
atravessarem a rua...
ou a sombra de uma folha
num tronco de árvore.
Coisas pequenas.
Acho que com gente é igual.
Vejo pequenos detalhes específicos
de cada coisa...
que me comovem e sinto saudades
deles depois.
Não se pode substituir ninguém...
porque todo mundo é uma soma
de pequenos e belos detalhes.
Lembro que a sua barba tem
fios avermelhados...
e que o sol os fez brilhar...
naquela manhã,
um pouco antes de você partir.
Lembrei disso, e senti saudades.
É muito louco, não é?
Agora, percebi. Quer saber
por que escrevi esse livro imbecil?
Por quê?
Para você vir à sessão
de leitura em Paris...
e para poder lhe perguntar
"Onde diabos você andou?"

Acha que eu estaria aqui hoje?
É sério. Acho que o escrevi
para tentar encontrar você.
Tudo bem.
Sei que isso não é verdade.
- Mas foi gentil você dizer isso.
- Acho que é verdade.

Quais eram as chances
de nos encontrarmos novamente?


Depois daquele dezembro,
eu diria que eram quase zero.
Não somos pessoas
verdadeiras, certo?
Somos apenas personagens
do sonho daquela velha senhora.
Ela está no seu leito de morte,
fantasiando sobre sua juventude.
Claro que tínhamos
de nos encontrar de novo.
Meu Deus. Por que você
não apareceu em Viena?
- Eu já expliquei.
- Eu sei o motivo. É que...
Eu queria que tivesse aparecido.
Nossa vida poderia ter sido
muito diferente.
Você acha?
Acho, sim.
Talvez não.
Talvez chegássemos a nos odiar.
Como nos odiamos agora?
Quem sabe a gente só se dá bem
em breves encontros...
perambulando por cidades européias
quando faz calor.
Meu Deus. Por que não trocamos
telefones e essas coisas?
Por que não fizemos isso?
- Por que éramos jovens e tontos.
- Acha que ainda somos?
Quando você é jovem, acredita
que vai se ligar em muitas pessoas.
Mais tarde na vida, você percebe
que só acontece algumas vezes.
E a gente pode estragar tudo.
Cruzar os fios.
O passado é o passado;
É assim que é.
Acredita nisso?
Que tudo está predestinado?
o mundo talvez seja menos livre
do que imaginamos.
Será?
Dadas as mesmas circunstâncias,
sempre acontecerá isso.
Duas partes de hidrogênio
e uma de oxigênio sempre dão água.
Como seria se sua avó tivesse
vivido mais uma semana?
Ou morrido uma semana
mais cedo? Ou alguns dias?
Tudo poderia ser diferente.
- Não pode pensar assim. É...
- Geralmente não, mas...
Neste caso, algo estava errado.
Nos meses que antecederam
meu casamento, pensei muito em você.
A caminho dele, no carro,
um amigo me levou...
eu olhei pela janela,
e imaginei tê-la visto...
não muito longe da igreja...
fechando um guarda-chuva
e entrando numa loja...
na esquina da Rua13 com Broadway.
Pensei que ia enlouquecer.
Mas agora acho que era você.
Eu morava na Rua11
com Broadway.
Viu?
Como é ser casado?
Você não falou sobre isso.
Não falei? Que esquisito.
Não sei. Nos conhecemos
quando eu estava na faculdade.
Terminamos e voltamos
durante alguns anos, e daí...
O quê? Voltamos mais ou menos,
e ela engravidou.
Então, nos casamos.
Como ela é?
Ela é ótima professora
e boa mãe.
Ela é esperta, bonita e tal.
Lembro de ter pensado na época...
que muitos dos homens
que eu mais admirava...
dedicaram suas vidas a algo
maior do que eles.
Casou-se porque os homens
que admira se casaram?
Não. Eu tinha um conceito
do meu melhor eu, sabe?
E queria buscar isso...
mesmo se passasse por cima
da minha honestidade.
Entendeu?
Naquele momento, achei que
quem eu era não tinha importância.
Ninguém vai significar
tudo para você...
que é apenas uma ação
de compromisso...
e encarar responsabilidades
é o que importa.
O que é o amor, afinal, se não forem
respeito, confiança e admiração?
Eu sentia todas essas coisas.
Hoje, sinto que estou
administrando um berçário...
com alguém que foi
minha namorada.

Eu virei quase monge.
Transei menos de dez vezes
nos últimos quatro anos.
- O que foi? Está rindo de mim?
- Não.

- Parece patético?
- Que mosteiro...
...permite que os monges transem?
- Tem razão.
Estou mais bem servido
que a maioria dos monges.
Mas sinto que, se alguém
me tocar...
eu dissolveria em moléculas.




Achei melhor parar de romancear
as coisas.
Eu vivia sofrendo o tempo todo.
Tenho muitos sonhos que não têm
nada a ver com minha vida afetiva.
Isso não me entristece,
mas as coisas são assim.
Por isso, tem um relacionamento
com quem nunca está por perto?
Obviamente, não sei lidar com
o cotidiano de um relacionamento.
É emocionante.
Quando ele viaja, sinto saudades...
mas não morro por dentro.
Ter alguém sempre por perto
me sufoca.
Você disse que precisa
amar e ser amada.
Mas, quando acontece, sinto enjôo.
É um desastre.
Só fico realmente feliz
quando estou sozinha.
Estar só é melhor do que sentir
solidão ao lado de um amante.
Para mim, não é fácil ser romântica.
Você começa assim...
mas, depois
de se dar mal algumas vezes...
esquece seus devaneios e aceita
o que a vida lhe dá.
Não é verdade. Não me dei mal.
Tive muitas relações sem graça.
Não foram cruéis. Me amaram...
mas não havia uma ligação
nem emoção.
Eu, pelo menos, não senti.
Sinto muito.
Está tão ruim assim?
Não é, certo?
Não é bem isso, sabe?
Eu estava bem, até ler
o seu maldito livro.
Mexeu muito comigo, sabe?
Me fez lembrar de ser romântica,
de como eu tinha esperança.
Agora, não acredito no amor.
Não sinto mais nada pelas pessoas.
Me entreguei a isso naquela noite
e nunca mais senti nada daquilo.
É como se naquela noite tivesse
dado tudo a você e você partiu.
Senti que fiquei fria, como se amor
não existisse para mim.
Eu não acredito nisso.
Não acredito.
Sabe o quê? Para mim, realidade
e amor são contraditórios.
É estranho, todos os meus
ex-namorados estão casados.
Os homens saem comigo, terminamos,
e eles se casam.
Depois, ligam e agradecem porque
lhes ensinei o que é o amor...
os ensinei
a amar e respeitar mulheres.
- Acho que sou um desses.
- Quero matá-los!
Por que não me pediram? Eu teria
recusado. Mas poderiam me pedir!
Sei que a culpa é minha.
Nunca senti que era o homem certo.
O que significa isso? O amor
de uma vida? O conceito é absurdo.
Só nos completamos
com outra pessoa. É sinistro!
- Posso falar?
- Sofri demais e me recuperei.
Agora, não faço força alguma.
Sei que não vai dar em nada.
- Não adianta nada.
- Não dá para viver...
...evitando a dor à custa...
- Falar é fácil.
Preciso sair daqui.
Pare o carro. Quero descer.
- Não, não desça. Fale.
- Quero ficar longe de você.
- Não me toque. Quero tomar um táxi.
- Não faça isso.
- Pare logo ali.
- Não. Continue.

Ouça, estou tão feliz.
Obrigado. Continue.
Está bem.
Ouça, estou muito feliz
por estar ao seu lado.
Estou. Estou contente que você
não se esqueceu de mim.
Não, não esqueci.
E isso me irrita muito.
Você vem a Paris,
todo romântico e casado.
Certo? Então, dane-se.
Não me entenda mal. Não estou
tentando conquistar você.
Um homem casado
é o que me falta.
Muitas coisas aconteceram
que não têm nada a ver com você.
Foi um momento no tempo
que se foi para sempre.
Você diz isso, mas nem se lembrou
de ter transado. Então...
Claro que eu me lembrei.
- Lembrou?
- Sim.
- As mulheres fingem.
- Fingem?
O que eu poderia dizer?
Que lembrava do vinho no parque...
e de olhar as estrelas sumirem
enquanto o sol nascia?
Transamos duas vezes, idiota.
Sabe o quê?
Fiquei feliz por ver você.
Apesar de ter-se tornado ativista
colérica e maníaco-depressiva...
ainda gosto de você,
de estar ao seu lado.
Sinto a mesma coisa. Perdão.
Não sei o que me deu.
- Eu precisava desabafar.
- Não esquenta.
Meu namoro e minha vida
afetiva são infelizes.
Parece que não ligo, mas estou
morrendo por dentro.
Estou amortecida.
Não sinto dor nem excitação.
Nem estou amargurada. Estou...
Acha que só você está
morrendo por dentro?
Minha vida é eternamente ruim.
- Sinto muito.
- Não, não.
Só me sinto feliz
quando passeio com meu filho.
Já fiz terapia de casais.
Fiz coisas que eu
nunca imaginei que teria de fazer.
Acendi velas, comprei livros
de auto-ajuda, lingerie.
As velas ajudaram?
- Nem um pouco.
Eu não a amo do jeito
que ela precisa ser amada.
Não vejo um futuro para nós.
Daí vejo nosso filho...
sentado perto de mim, e penso
que eu passaria por tudo...
para estar com ele
todos os minutos da vida dele.
Não quero perder um momento.
Na minha casa, não há
nem alegria, nem risadas, sabia?
Não quero que ele cresça
nesse ambiente.
Sem risada? Que horrível.
Meus pais estão casados há 35 anos
e dão risada até quando brigam.
Não quero ser daqueles
que se divorciam aos 52 anos...
que chorando reconhecem
que nunca amaram seu par...
e que sentem que a vida deles
foi sugada por um aspirador de pó.
Quero uma vida boa. Quero que ela
tenha uma vida boa. Ela merece.
Mas vivemos um casamento simulado
por responsabilidade.
Vivemos como as pessoas
supostamente devem viver.
Mas eu tenho aqueles sonhos...
- Que sonhos?
- Eu sonho que estou...
de pé numa plataforma...
e você fica passando
dentro de um trem.
Você passa, e passa, e passa.
E eu acordo suando muito.
E tenho outro sonho também...
em que você está grávida,
nua, ao meu lado na cama.
Quero tocá-la, mas você não deixa,
e desvia o olhar.
E eu a toco mesmo assim...
a partir do seu calcanhar. Sua pele
é tão macia, que acordo chorando.
Minha mulher me olha, e sinto
que estou muito longe dela.
Sei que algo está errado.
Que eu...
Não posso continuar
a viver assim.
A vida é mais
do que comprometimento.
Depois, penso que talvez eu
tenha desistido do amor romântico.
Que talvez eu tenha
desistido de tudo...
naquele dia em que você
não apareceu.
Acho que talvez
eu tenha feito isso.
Por que está me contando
tudo isso?
Sinto muito. Não sei.
Eu deveria...
Eu não deveria ter contado.
Não deveria...
É muito estranho.
A gente acha que só a gente
tem problema.




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