um pouco do que me interessa

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Será que não percebem?é um coração partido


Não precisa mostrar fotos,falar dele...pq ela o vê em quase tudo

Sentiu "saudades" da mão grande.Sumiço bom para ambos.É a vida...

Sim ela não aceita perdas
Então vai parar de escrever
Ela não consegue dormir.
Todo dia tenta achar seu caminho
A poesia está morrendo
Cansada de escrever,mas com necessidade de dizer,mas medo.
O seu teclado está estragando
E suas palavras não importam a ninguém
Talvez se ausente
Põe palavras dos outros
Não se sente confortável e corajosa para falar
Já não suporta a espera do nada
Tenta saber quem é neste tempo todo e preenche este tempo todo.
Ela NÃO tem mais tempo.Agenda cheia
Fale por ela, Arrabal!
Fale por mim canção e filme que me fez chorar tanto,que eu não sabia que tinah tanta lágrima e dor para sair.


(Fando e Lis estão sentados no chão. Perto deles se encontra um grande carrinho de criança, preto, envelhecido e descascado, com rodas finas de borracha macias e raios enferrujados. Por fora do carrinho e amarrados com cordas há uma porção de objetos, entre os quais destacam um tambor, uma coberta enrolada, uma vara de pescar, uma bola de couro e uma caçarola. Lis é paralítica das duas pernas.)
LIS - Mas eu vou morrer e ninguém vai se lembrar de mim.
FANDO - (Docemente) - Sim, Lis. Eu vou me lembrar de você e irei vê-la no cemitério com uma flor e um cachorro. (Longa pausa. Fando olha Lis. Emocionado.) - E no seu enterro cantarei baixinho o refrão "como é bonito um enterro, “Como é bonito um enterro", cuja música é muito engraçada. (Ele a olha silenciosamente e continua com ar satisfeito.) - Eu o farei por você.
LIS - Você me ama muito.
FANDO - Mas prefiro que você não morra. (Pausa) Vou ficar muito triste no dia que você morrer.
LIS - Ficar triste? Por que?
FANDO - (Desolado) - Não sei.
LIS - Você me diz isso, só porque ouviu dizer. Isso é sinal de que você não ficará triste. Você sempre me engana.
FANDO - Não, Lis, eu estou dizendo a verdade, vou ficar muito triste.
LIS - Você vai chorar?
FANDO - Farei um esforço, mas não sei se vou conseguir. Não sei se vou conseguir! Não sei se vou conseguir! Você acha que isso é uma resposta? Acredite em mim, Lis.
LIS - Mas acreditar em que?
FANDO - (Refletindo) - Não sei bem. Diga apenas que acredita em mim.
LIS - (Como um autômato) - Eu acredito em você.
FANDO - Mas nesse tom, não vale.
LIS - (Alegre) - Eu acredito em você.
FANDO - Assim também não vale, Lis. (Humildemente) - Fale direito, pois quando você quer, você sabe dizer muito bem as coisas.
LIS - (Num outro tom, também pouco sincero) - Eu acredito em você.
FANDO - (Abatido) Não, Lis, não. Não é assim. Tente outra vez.
LIS - (Faz um esforço, mas não são sinceras suas palavras) - Eu acredito em você.
FANDO - (Muito triste) - Não, não, Lis. Como você é, como se comporta mal comigo. Tente, mas direito.
LIS - (Sem ainda conseguir) - Eu acredito em você.
FANDO - (Violento) - Não, não, não é isso.
LIS - (Faz um esforço desesperado) - Eu acredito em você.
FANDO - (Violentíssimo) - Assim também não.
LIS - (Muito sincera) - Eu acredito em você.
FANDO - (Comovido) - Você acredita em mim, Lis! Você acredita em mim!
LIS - (Também comovida) - Eu acredito em você.
FANDO - Como eu sou feliz!
LIS - Eu acredito em você, porque quando fala, você parece um coelho e quando dorme comigo, você me deixa ficar com toda a coberta e fica sentindo frio.
FANDO - Isso não tem importância.
LIS - E sobretudo porque pelas manhãs você me banha na fonte e, assim, eu não tenho que me lavar, pois isso me aborrece muito.
FANDO - (Depois de uma pausa, resoluto) - Lis, quero fazer muitas coisas por você.
LIS - Quantas?
FANDO - (Reflete) - Quanto mais, melhor.
LIS - Então, o que você tem de fazer é lutar pela vida.
FANDO - Isso é muito difícil.
LIS - É assim que você pode fazer alguma coisa por mim.
FANDO - Lutar pela vida? Que coisas você diz! (Pausa) - Quase uma brincadeira. (Muito sério) - É que, Lis, não sei porque tenho que lutar pela vida e, talvez, se eu soubesse o porque, não teria forças; e inclusive, se eu tivesse forças, não sei se elas me serviriam para vencer.
LIS - Fando, faça um esforço.
FANDO - Fazer um esforço? (Pausa) - Talvez assim seja mais simples.
LIS - Temos que fazer um acordo.
FANDO - E você acha que isso nos ajudará?
LIS - Estou quase certa.
FANDO - (Pensa) - Mas, ajudar em que?
LIS - Não importa, o que interessa é que nos ajude.
FANDO - Para você tudo é muito simples.
LIS - Não, para mim também é difícil.
FANDO - Mas você tem soluções para tudo.
LIS - Não, eu nunca encontro soluções, o que ocorre é que me iludo dizendo que as tenho encontrado.
FANDO - Isso não vale.
LIS - Já sei que não vale, mas como ninguém me pergunta nada, dá no mesmo; além do mais, é muito bonito.
FANDO - Sim, está certo, é muito bonito. Mas e se alguém lhe perguntar alguma coisa?
LIS - Tanto faz. Ninguém pergunta nada. Todos estão muito atarefados buscando uma maneira de enganarem-se a si mesmos.
FANDO - Uh! Que complicado!
LIS - Sim, muito.
FANDO - (Comovido) - Como você é esperta, Lis!
LIS - Mas não me serve de nada, você sempre me faz sofrer.
FANDO - Não, Lis. Eu não lhe faço sofrer, muito pelo contrário.
LIS - Lembra-se de como você me pega quando pode.
FANDO - (Envergonhado) - É verdade. Não voltarei a fazer isso, você verá que não.
LIS - Você sempre me diz que não voltará a fazer, mas logo me atormenta o quanto pode e diz que vai me amarrar com uma corda para que eu não possa me mover. Você me faz chorar.
FANDO - (Terníssimo) - Fazia você chorar, principalmente, quando você estava naqueles dias. Não, Lis, não voltarei a fazer. Comprarei uma barca quando chegarmos a Tar e levarei você para ver um rio. Você quer, Lis?
LIS - Sim, Fando.
FANDO - E eu sentirei todas as suas dores, Lis, para que veja que eu não quero fazer você sofrer. (Pausa) - Terei filhos como você também.
LIS - (Comovida) - Como você é bom!
FANDO - Quer que eu lhe conte estórias bonitas, como a do homem que levava uma mulher paralítica, a caminho de Tar, num carrinho?
LIS - Primeiro, me leva pra passear.
FANDO - Sim, Lis. (Fando toma Lis nos braços e passeia com ela pela cena) - Olhe, Lis, como são bonitos o campo e a estrada.
LIS - Sim, como eu gosto!
FANDO - Olhe as pedras.
LIS - Sim, Fando, que pedras lindas!
FANDO - Olhe as flores.
LIS - Não tem flores, Fando.
FANDO - (Violento) - Dá no mesmo, olhe as flores.
LIS - Eu estou dizendo que não tem flores. (Lis fala agora num tom muito humilde, Fando, pelo contrário, se torna mais autoritário e violento por momentos.)
FANDO - (Gritando) - Eu disse para olhar as flores! Será que não entende?
LIS - Sim, Fando, me perdoa. (Longa pausa) - Como sofro por ser paralítica!
FANDO - É bom que seja paralítica, assim sou eu que levo você para passear. (Fando se cansa de carregar Lis nos braços ao mesmo tempo que se torna cada vez mais violento.)
LIS - (Bem docemente, temendo desagradar Fando) - Como está bonito o campo com suas flores e suas árvorezinhas.
FANDO - (Irritado) - Onde é que você está vendo árvores?
LIS - (Docemente) - Assim se diz: o campo com suas lindas árvores. (Pausa)
FANDO - Você é muito pesada. (Fando, sem nenhum cuidado, deixa Lis cair no chão.)
LIS - (Grita de dor) - Ai Fando! (Imediatamente com doçura, com medo de desagradar Fando) - Você me machucou!
FANDO - (Duramente) - Você ainda se queixa.
LIS - (Quase chorando) - Não, não me queixo. Muito obrigada, Fando. (Pausa) - Mas eu gostaria que você passeasse comigo no campo e me mostrasse as flores tão bonitas. (Fando, visivelmente desgostoso, segura Lis por uma perna e a arrasta pela cena.)
FANDO - Então, agora está vendo as flores? O que mais queria ver? Heim? Diga. Já viu o bastante?
LIS - (Soluça esforçando-se para que Fando não a ouça. Sem dúvida sofre muito) - Sim, sim. Obrigada... Fando.
FANDO - Ou quer que eu a carregue até o carrinho?
LIS - Sim, se não for incômodo. (Fando arrasta Lis pela mão até deixá-la junto ao carrinho)
FANDO - (Visivelmente chateado) - Eu tenho de fazer tudo pra você e ainda por cima você chora.
LIS - Me perdoa, Fando. (Ela soluça)
FANDO - Qualquer dia eu lhe deixarei e irei para bem longe de você.
LIS - (Chora) - Não, Fando, não me abandone. Eu só tenho você no mundo.
FANDO - Você não faz nada mais que me amolar. (Grita) - E não chora.
LIS - (Faz um esforço para não chorar) - Não estou chorando.
FANDO - Pare de chorar, eu já disse. Se você continuar chorando, vou me embora agora mesmo.
LIS - (Apesar de tentar impedi-lo, continua chorando)
FANDO - (Muito chateado) - Então você continua chorando, sempre, sempre, heim? Pois agora mesmo eu vou embora e não volto nunca mais. (Sai enfurecido. Depois de alguns instantes, Fando entra de novo, devagar e temeroso, até chegar onde está Lis.)
FANDO - Lis, me perdoe. (Humilde, Fando toma Lis nos braços e a beija. Depois ele a senta comodamente. Ela se deixa levar sem dizer nada)
FANDO - Eu nunca mais vou ser mau com você.
LIS - Como você é bom, Fando!
FANDO - Sim... Lis, você verá como eu vou me portar bem de agora em diante.
LIS - Sim, Fando.
FANDO - Me diga o que é que você quer.
LIS - Que nos coloquemos a caminho de Tar.
FANDO - Vamos partir imediatamente. (Fando toma Lis nos braços com muito cuidado e a coloca no carrinho) - Há muito tempo que nós estamos tentando chegar a Tar e não conseguimos nada.
LIS - Vamos tentar outra vez...
FANDO - Muito bem, Lis, como você quiser. (Fando empurra o carrinho que começa a cruzar lentamente a cena. Lis, dentro dele, olha para o fundo. Fando pára de repente, se dirige para Lis e lhe acaricia o rosto com as duas mãos. Pausa) - Eu peço perdão pelo que aconteceu. Eu não queria te fazer sofrer.
LIS - Eu sei disso, Fando.
FANDO - Confia em mim. Nunca mais vou fazer isso.
LIS - Sim, confio em você. Você é sempre muito bom comigo. Eu me lembro que quando eu estava no hospital, você me enviava cartas enormes, para que eu pudesse me gabar que recebia cartas tão grandes.
FANDO - (Envaidecido) - Isso não tem importância.
LIS - Também me lembro que, muitas vezes, como não tinha nada pra me contar, você me mandava um monte de papel higiênico para que a carta ficasse bem cheia.
FANDO - Isso não é nada, Lis.
LIS - Como eu ficava contente!
FANDO - Você está vendo como tem que confiar em mim?
LIS - Sim, Fando, eu confio.
FANDO - Sempre farei o que você mais goste.
LIS - Então, vamos nos apressar para chegarmos a Tar.
FANDO - (Triste) - Mas não chegaremos nunca. (Fando empurra o carrinho.)
LIS - Eu já sei, mas tentaremos.

Um comentário:

Justine disse...

NOSSA QUE LINDO TEXTO,FAZ NOS LEMBRA DE VARIAS SITUAÇÃO QUE MESMO MACHUCADA COM UM SITUAÇÃO PREFERIROS NOS PORTAR COMO UMA PARALITICA NA ALMA,E CONTINUA QUE OS OUTROS NOS LEVE, E CONSTATNTEMENTE PARTINDO NOSSO CORAÇÃO