um pouco do que me interessa

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vaso que se quebra



Quebrei, me juntem!!!
Me dá uma garrfa de bebida bem forte e fale bem mal dele pra mim
E não me levem para casa

Dizem que vaso ruim não quebra, mas isso é mentira.
Vaso ruim quebra sim. Vaso é vaso, pode ser bom, pode ser ruim, pode ser velho, pode ser novo. Vaso, quando cai, quebra.

Eu já sou rachada demais para meu gosto, rachada a ponto de ter medo na hora de topar tantas coisas porque, na maioria das vezes, eu acho que vai dar chão. E dá. E deu.

Eu sou um vaso já velho e bem rachado. Tenho remendos, alguns mais fortes, outros mais fracos. Vou vivendo uma vida de durepox, uma vida de isolante grudando a parte de dentro, uma vida de superbonder. Eu vou vivendo sem ao menos saber como.

São coisas que me fazem olhar no espelho e pensar se não sou um vaso descartável. Qual o valor de um vaso? Qual a história de um vaso? Para que serve um vaso? Você pode conseguir muitos vasos em muitos lugares, alguns baratos, outros caros, e existe gosto para tudo. Uma coisa que existe no mundo e realmente é variada é vaso.

Vasos possuem histórias, tanto as das festas que adornaram, das flores que carregaram, como das quedas que sofreram. Alguns vasos aparentemente caem mais do que outros. As pessoas tendem a ser um bocado insensíveis em relação aos vasos “ruins” e podem deixar cair, afirmando que não quebram.
Qualquer coisa, arranja-se novo.

Vasos possuem rebarbas, e ao cair podem machucá-lo. Vasos possuem cacos, mas vasos são mais que isso.
Coloca-se que vaso ruim não quebra para uma expressão de força. Tal pessoa é forte, eu sou forte. Pode derrubar, eu não quebro.
É mentira. Você quebra, ela quebra, eu quebrei.

Qual o papel que eu tive nessa história? Qual meu valor para essa pessoa? Quem fui eu? O que são os outros, para ela?
São perguntas que me obrigam a deixar de fazer, mas nada me dizem de como podem calar.
Eu não vou pagar de fria e calculista e fingir que nada disso me afeta.
Vai ser humilhação, vai ser rebaixamento, só eu vou me ferir nessa história? Eu não sei. A pessoa que está feliz e tendo como troféu um vaso barato ao lado de outro quebrado não sou eu.
Não fui eu que varri os cacos para baixo do tapete.
Sou eu que sento, pacientemente, pego a cola e rejunto. Caco por caco.

O vaso ficou consagrado como tema de poesia parnasiana, “poesia fria”. “O poeta geladeira”. Certas pessoas levam a vida assim. Enquanto elas acham que produzem obras inigualáveis e dotadas do melhor sentido de perfeição possível elas só estão descrevendo um vaso. Elas só estão buscando uma simetria que, duvido muito, é existente.

Sou um vaso antigo, quebrado e antigo. Colar as peças dá um trabalhão e leva tempo. Espero um dia estar de volta à mesa, bonito, com minhas marcas, mas bonito. Está pesado. Eu chego lá.

Pensem duas vezes antes de derrubar um vaso ruim. Eles quebram.
E se pra vocês é tão fácil assim arranjar qualquer porcaria pra colocar na mesa só pra que ela não fique vazia evitem vasos que já foram muito espatifados. Eu agradeço

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