um pouco do que me interessa

sábado, 4 de outubro de 2008

O amor dos franceses


Em meio a pesquisas sobre minha paixão:fotografia( viva Bresson) achei uma critica sobre o filme "Os sonhadores".Se encaixa perfeitamente com este momento.Espero que gostem!
Aqui numa carência que vai me mastigando aos poquinhos, me preencho das músicas boas,das minhas pesquisas e do francês.
Escovando os dentes vi como minhas escovas duram pouco.Nossa ela se assemelham a muitas coisas em minha vida.Me lembrei a que deixei na lixeira da tua casa,que pena,eu não gostava dela,ela era laranja.
Sobre OS SONHADORES(nome bom esse Petit acha)
Em um desses momentos-chave, Matthew proclama amar Isabelle, ao que ela responde amá-lo também. Nada demais nesse interstício, mas o americano retruca com pesar: mas eu amo você de verdade. A moça nega veementemente a afirmação de Matthew. É a porta de entrada de uma curiosa reflexão:
Você me ama?
Eu te amo de verdade também!Nós dois te amamos,não é mesmo Theo?
Ah ,sim!
Não era isso que eu queria que vocÊ dissesse
E o que vocÊ queria que nós disséssemos?
Queria que dissesse que me ama!
Nós acabamos de dizer Matthew
Não,você me disse que me ama também.Eu não quero que diga...que me ama
AH nós te amamos,nós te amamos,nós te amamos.
Assim também não.VocÊs tem de dizer primeiro.
Meu Deus Mattew .VocÊ já disse primeiro.
E por que é assim?Por que sou sempre o primeiro a dizer?


Para Matthew, não é cabível que, em resposta à declaração de amor, haja uma que pretenda equivaler-se, principalmente porque a equivalência que há no “amar também” simplesmente não existe. Na verdade, quantas coisas mais práticas e e polidas há que dizer “eu te amo também”? Não que tudo seja cinismos, mas a frase costuma ter lá sua dose dele num movimento natural diante da pressão atmosférica que se forma na entrega dum amor – o que achamos tão grave. É justamente essa relação de pressão e peso que Bertolucci parece querer enfatizar.
Não há réguas capazes de medir abstrações sentimentais como a tristeza, a frustração ou a alegria; são todas coisas pessoais, egoístas e relativas.
No Francês, a resposta para a declaração “je taime” não passa pela urgência de igualar seu sentimento ao outro num certo frenesi de que se dissipem logo as preocupações. À um “je taime", segue-se um “moi non plus”, ou seja “eu não mais”/“eu não te amo mais do que você a mim”. É um nivelamento bem diferente. Um que admite os fatos de se ter poder sobre alguém entregue. Os franceses parecem ter compreendido, ao menos melhor que a América, que TODA DECLARAÇÃO DE AMOR É UMA ENTREGA DE MÃO ÚNICA; nada faz possível que seja recíproca. O ser declarante diz dos seus sentimentos, teoricamente verdadeiros, e nada pode pedir em troca. Por sua vez, o que ouve a declaração nada pode fazer a respeito para defender-se da fraqueza do outro num argumento bastante parecido com o de um Cristo aniquilado em prol da salvação de seus queridos. Deve ser por isso que tentamos aplacar a questão com o rápido adendo-refrigério do “também”: nada pior que o poder dos humilhados.
Como a dádiva aparece na antropologia - onde todo “presente” entregue exige uma reposição de igual valor – a declaração de amor torna-se um presente impossível de ser reposto. Recebê-la aprisiona aquele que, indefeso, recebe. É assim que Bertolucci, pela voz de Matthew expõe o seu ponto de que a resposta de Isabelle, como tantas nossas, é uma máscara leviana que nega a dádiva exposta pelo outro. O amor correspondido é sempre outro, novo e inédito a nós. Amar é condição ímpar.


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